Exposição, Galeria Virgilio
(6 dezembro 2007—15 de fevereiro 2008)
Em sua segunda mostra individual, Thiago Honório busca problematizar a idéia de exposição. Os trabalhos que compõem a mostra, cujo título Exposição enuncia literalmente o problema com o qual o artista agora se defronta, foram livremente inspirados na novela História do olho, de Georges Bataille, como também no ensaio Espelho da tauromaquia, de Michel Leiris, autores dissidentes do grupo surrealista francês liderado por André Breton. A referência a este movimento pretende apenas sugerir um dado poético, ligado ao rico universo sensorial e aos procedimentos de livre associação de idéias do Surrealismo, e não implica uma dependência da mostra em relação a ele e a essas obras literárias.
Na montagem de Exposição, Thiago Honório procurou concatenar e estabelecer uma relação entre os trabalhos, enfatizando os intervalos entre eles, conferindo um estatuto ativo aos espaços deixados vazios; com isso, ao mesmo tempo que resguarda a autonomia de cada um deles, mergulha-os num feixe de relações recíprocas, situação na qual o espectador deve se descobrir permanentemente convocado a redefinir o conjunto.
Conforme nos diz o próprio Thiago, “esta mostra, e os trabalhos que a integram (que são, por assim dizer, duas coisas iguais e diferentes), surgem como uma reflexão sobre a natureza do processo de criação, sobre esse limite incerto que pode tornar algo um 'trabalho de arte'. É algo que indaga se a condição de uma ‘exposição’ pode vir a ser o próprio momento constitutivo do trabalho, revelar-lhe os mecanismos mais sutis de formação, e não a apresentação de um conjunto que só pode vir à tona a posteriori. As obras têm em comum o desejo de questionar o quanto a arte ainda realiza a experiência de uma comunicação criadora entre uma esfera íntima e uma esfera pública e o desejo de falar de certa fragilidade da condição humana, sempre à mercê de se ver tragada pela exacerbação de um mundo privado ou, no extremo oposto, pela submersão numa voragem de determinações que lhe são externas e cuja compreensão lhe escapa. Elas são, como diz Leiris, a reflexão sobre os nós ou pontos críticos, sobre ‘os lugares onde o homem tangencia o mundo e a si mesmo’”.
Numa generosa parede da sala do piso térreo encontra-se apenas o grandioso chifre de um animal selvagem; na parede contígua, um monitor de plasma exibe o vídeo Exposição I e, no centro da mesma sala, onde o visitante se depara com duas colunas, há dois trabalhos, intitulados Xeque-mate e Olho. Para além da idéia de limite que perpassa todos os trabalhos inéditos expostos, o conjunto revela uma crueza, a vontade de uma exposição autodemonstrativa de seus elementos, e surge de um ato que paradoxalmente deseja se presentificar pela ausência, vale dizer, pela própria energia que deve irradiar das obras.
O título / “nome” Bataille (que também significa batalha) gravado em placa de ouro afixada sobre uma base de jacarandá da qual emergem os chifres, tijolos à vista, estaca de concreto, tabuleiro de peles, chumbo, espelho de mesa, ovo – todos esses elementos são o que são: expostos cruamente e isentos de preocupação narrativa.
As idéias de limite e contraste, bem como uma relação com o ambiente que envolva ativamente o espectador, são questões caras a Thiago Honório e vêm sendo abordadas em seus trabalhos, desde Saltando de banda, exposição realizada em 2003, espécie de performance de engenharia, com corpulentas estacas de concreto armado e cabos de aço.
Acompanha Exposição um ensaio inédito de Sônia Salzstein.
Obras
Leiris, 2007
Bataille, 2007
Xeque-mate, 2007
Olho, 2007
Buñuel, 2007
Falo, 2007
Superfície, 2004-2007
Exposição I, 1999-2007
textosExposição, Sônia Salzstein